quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A verdade do que aconteceu na Cimeira

REFLEXONS DO COMANDANTE FIDEL CASTRO
A verdade do que aconteceu na Cimeira

Aos jovens interessa-lhes o futuro mais do que a ninguém.

Até há bem pouco discutia-se sobre o tipo de sociedade em que viveríamos. Hoje discute-se se a sociedade humana sobreviverá.

Nom se trata de frases dramáticas. Devemos acostumar-nos aos factos reais. A última cousa que podem perder os seres humanos é a esperança. Com a verdade na mao, homens e mulheres de todas as idades, nomeadamente os jovens, levarom a cabo na Cimeira umha batalha exemplar, oferecendo ao mundo umha grande lecçom.

Agora o principal é fazer com que se conheça no mais possível em Cuba e no mundo o acontecido em Copenhage. A verdade possui umha força que supera a inteligência mediatizada e muitas das vezes desinformada daqueles que tenhem nas suas maos os destinos do mundo.

Se na capital dinamarquesa conseguiu-se algumha cousa importante, foi que através da mídia a opiniom mundial pode observar o caos político criado e o tratamento humilhante a Chefes de Estado e de Governo, Ministros e milhares de representantes de movimentos sociais e instituiçons, que cheios de ilusons e de esperanças viajarom à sede da Cimeira em Copenhage. A brutal repressom contra manifestantes pacíficos pola força pública, fazia lembrar a conduta das tropas de assalto dos nazis que ocuparom a vizinha Dinamarca em Abril de 1940. O que ninguém podia imaginar é que, em 18 de Dezembro de 2009, último dia da Cimeira, ela seria suspendida polo governo dinamarquês ―aliado da NATO e associado à chacina do Afeganistom― para entregar a sala principal da Conferência ao Presidente Obama, onde ele e um grupo selecto de convidados, 16 no total, teriam o direito exclusivo de falar. Obama proferiu um discurso enganoso e demagógico, cheio de ambiguidades, que nom implicava compromisso vinculatório algum e ignorava o Convénio Marco de Quioto. Saiu da sala pouco depois de escuitar mais alguns oradores. Entre os convidados a fazer uso da palavra estavam os países mais industrializados, vários das economias emergentes e alguns dos mais pobres do planeta. Os líderes e representantes de mais de 170, só tinham direito a escuitar.

Ao findar o discurso dos 16 escolhidos, Evo Morales, com toda a autoridade da sua origem índia aimara, recém-eleito polo 65% dos votos e o apoio das duas terceiras partes da Câmara e do Senado da Bolívia, solicitou a palavra. O Presidente dinamarquês nom tivo outra alternativa do que outorgá-la perante a demanda das outras delegaçons. Quando Evo concluiu as suas sábias e profundas frases, o dinamarquês tivo que ceder-lhe a palavra a Hugo Chávez. Ambos os pronunciamentos passarom à história como exemplos de discursos breves e oportunos. Cumprida cabalmente a tarefa, os dous partirom rumo os seus respectivos países. Mas quando Obama fijo silêncio polo foro, ainda nom tinha cumprido a sua tarefa no país sede da Cimeira.

Desde a noite de 17 e a madrugada de 18, o Primeiro-ministro da Dinamarca e altos representantes dos Estados Unidos da América reuniam-se com o Presidente da Comissom Europeia e os líderes de 27 países para lhes propor em nome de Obama, um projecto de acordo, em cuja elaboraçom nom participaria nengum dos restantes líderes do resto do mundo. Era umha iniciativa antidemocrática e virtualmente clandestina, que ignorava milhares de representantes dos movimentos sociais, instituiçons científicas, religiosas e demais convidados à Cimeira.

Durante toda a noite de 18 até as três da madrugada do 19, quando já muitos Chefes de Estado tinham partido, os representantes dos países estiverom esperando o reinício das sessons e o encerramento do evento. Todo o dia 18, Obama tivo reunions e conferências de imprensa. Mesma cousa fijerom os líderes da Europa. Depois forom embora.

Entom aconteceu umha cousa insólita: às três da madrugada do 19, o Primeiro-ministro da Dinamarca convocou umha reuniom para o encerramento da Cimeira. Restavam apenas representando os seus países ministros, funcionários, embaixadores e pessoal técnico.

Contodo, foi assombrosa a batalha que levou a cabo nessa madrugada um grupo de representantes de países do Terceiro Mundo, que impugnavam a tentativa de Obama e dos mais ricos do planeta de apresentar como acordo por consenso da Cimeira o documento imposto polos Estados Unidos.

A representante da Venezuela, Claudia Salerno, com energia impressionante mostrou a sua mao direita, da que saia sangue, pola força com que bateu na mesa para exercer o seu direito a fazer uso da palavra. O tom da sua voz e a dignidade dos seus argumentos nom poderam ser esquecidos.

O Ministro de Relaçons Exteriores de Cuba, proferiu um enérgico discurso de aproximadamente mil palavras, do qual escolho vários parágrafos que desejo incluir nesta Reflexom:

"O documento que você várias vezes afirmou que nom existia, senhor Presidente, aparece agora. […] temos visto versons que circulam de maneira sub-reptícia e que som discutidas em pequenos conciliábulos secretos…"

"…Lamento profundamente a maneira em que você tem conduzido esta conferência."

"…Cuba considera extremamente insuficiente e inadmissível o texto deste projecto apócrifo. A meta de 2 graus centígrados é inaceitável e teria consequências catastróficas incalculáveis…"

"O documento que você, infelizmente, apresenta nom tem nengum compromisso de reduçom de emissons de gases de efeito estufa."

"Conheço as versons anteriores que também, através de procedimentos questionáveis e clandestinos, forom negociadas em corrilhos fechados…"

"O documento que você apresenta agora, omite, precisamente, as já magras e insuficientes frases chave que aquela versom continha…"

"…para Cuba, resulta incompatível com o critério científico universalmente reconhecido, que considera urgente e iniludível garantir níveis de reduçom de, polo menos, 45% das emissons para o ano 2020, e nom inferiores a 80% ou 90% de reduçom para 2050."

"Todo delineamento acerca da continuaçom das negociaçons para adoptar, no futuro, acordos de reduçom de emissons, deve incluir, inevitavelmente, o conceito da vigência do Protocolo de Quioto […] O seu papel, senhor Presidente, é a acta de defunçom do Protocolo de Quioto que a minha delegaçom nom aceita."

"A delegaçom cubana deseja fazer ênfase na preeminência do princípio de ‘responsabilidades comuns, mas diferenciadas’, como conceito central do futuro processo de negociaçons. O seu papel nom diz umha palavra disso."

"Este projecto de declaraçom omite compromissos concretos de financiamento e transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento como parte do cumprimento das obrigas contraídas polos países desenvolvidos sob a Convençom Quadro das Naçons Unidas sobre Mudança Climática […] Os países desenvolvidos, que imponhem os seus interesses mediante o seu documento, senhor Presidente, evadem qualquer compromisso concreto."

"…Aquilo que você chama, senhor Presidente, de ‘um grupo de líderes representativos’ é, para mim, umha grosseira violaçom do princípio de igualdade soberana que consagra a Carta das Naçons Unidas…"

"Senhor Presidente, solicito-lhe formalmente que esta declaraçom seja recolhida no relatório final sobre os trabalhos desta lamentável e vexante 15 Conferência das Partes."

Apenas lhe concederom umha hora aos representantes dos Estados para emitir opinions, o que conduziu a situaçons complicadas, vergonhosas e desagradáveis.

Entom aconteceu um longo debate em que as delegaçons dos países desenvolvidos exercerom umha forte pressom para tentar que a Conferência adoptasse esse documento como resultado final das suas deliberaçons.

Um reduzido número de países insistiu com firmeza nas sérias omissons e ambigüidades do documento impulsionado polos Estados Unidos, particularmente na ausência de compromisso dos países desenvolvidos no relativo à reduçom de emissons de carbono e ao financiamento para adoptar medidas de mitigaçom e adaptaçom dos países do Sul.

Após umha longa e extremamente tensa discussom, prevaleceu a posiçom dos países da ALBA e do Sudam, como Presidente do Grupo dos 77, de que o documento em questom era inaceitável para ser adoptado pola Conferência.

Perante a evidente falta de consenso, a Conferência limitou-se a "tomar nota" da existência desse documento como a posiçom de um grupo de ao redor de 25 países.

Trás essa decisom adoptada às 10h30, hora da Dinamarca, Bruno ―depois de discutir junto de outros representantes da ALBA amistosamente com o Secretário da ONU e expressar-lhe a disposiçom de continuar a luitar junto das Naçons Unidas para impedir as terríveis consequências da mudança climática― partiu na companhia do Vice-presidente cubano Esteban Lazo rumo ao nosso país para participar da reuniom da Assembléia Nacional, dando por finalizada a sua tarefa. Em Copenhage ficavam alguns membros da delegaçom e o embaixador para participar nos trâmites finais.

Hoje à tarde informarom o seguinte:

"…tanto aos que participaram na elaboraçom do documento, quanto aos que ―como o Presidente dos EUA― anteciparom-se a anunciar a sua adopçom pola Conferência… como nom podiam rejeitar a decisom de se limitar a ‘tomar nota’ do suposto ‘Acordo de Copenhage, tentarom propor um procedimento para que outros países Partes que nom tinham estado neste conluio se somassem a ela, declarando a sua adesom, com o que tentavam outorgar-lhe um carácter legal a esse acordo, que de facto podia prejulgar o resultado das negociaçons que deverom continuar."

"Esta tentativa tardia recebeu de novo umha firme oposiçom de Cuba, da Venezuela e da Bolívia, que advertirom que este documento que a Convençom nom tinha feito seu nom tinha nengum carácter legal, nom existia como documento das Partes e nom podia estabelecer-se nengumha regra para a sua suposta adopçom…"

"É neste estado que concluem as sessons de Copenhage, sem que se tenha adoptado o documento que tinha sido preparado sub-repticiamente durante os últimos dias, com umha clara conduçom ideológica da administraçom americana…"

Amanhá a atençom estará centrada na Assembléia Nacional.

Lazo, Bruno e o resto da delegaçom chegarom hoje na meia-noite. O Ministro de Relaçons Exteriores de Cuba poderá explicar na segunda-feira, com os detalhes e a precisom necessária, a verdade do acontecido na Cimeira.

Fidel Castro Ruz
19 de Dezembro de 2009
20h17 •