segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O 50º aniversário da Revoluçom cubana e a Brigada Fuco Gomes

A seguir, reproduzimos a intervençom do companheiro da Brigada Fuco Gomes, Alexandre Rios, no debate organizado polo CS Henriqueta Outeiro em Compostela a passada quinta-feira 29 de Janeiro.


Na mesa-redonda também participarom Moncho Leal, membro da Associaçom galego-cubana Francisco Vilhamil, e Alejandro Fuentes, Cónsul de Cuba na Galiza.


O 50º aniversário da Revoluçom cubana e a Brigada Fuco Gomes


1. Introduçom


Antes de mais, a BFG quer agradecer ao CS Henriqueta Outeiro o dar-nos a oportunidade de participar neste debate sobre o socialismo cubano, mas também polo labor realizado na comarca compostelana em prol dumha Galiza revolucionária. Muito obrigado.

Pensemos nesta última palavra, “revolucionária”. Som apenas 14 letras, tardamos um segundo em pronunciá-la, mas a sua brevidade encerra um vastíssimo océano de luitas que tivêrom e tenhem lugar desde há séculos, e que com múltiplas diferenças e variedades tenhem um objectivo comum: Perseguem a libertaçom da humanidade, isto é, a revoluçom socialista. Nós pensamos que a dia de hoje, em 2009, em Cuba, na Galiza, essa meta é possível.

2. A Brigada Fuco Gomes

Mas antes de continuar, cumpre umha pequena apresentaçom sobre quem somos, como nascimos, e sobretodo, o quê fazemos.

Como nascimos

A BGFG constitui-se oficialmente em Dezembro de 2007 com três objectivos:

a) O fomento da solidariedade activa com Cuba entre a juventude trabalhadora galega.

b) A divulgaçom da luita revolucionária galega na própria ilha.

c) A defesa e difusom da Revoluçom Cubana na Galiza.

Quem somos

- A BGFG está formada por jovens galeg@s militantes ou simpatizantes da esquerda independentista, interessados em fazer trabalho internacionalista activo.

- O nomem da Brigada escolhimo-lo como homenagem ao fundador do independentismo galego, residente na Havana a maior parte da sua vida e de sólidas convicçons socialistas. O trabalho desenvolvido por Fuco Gomes por umha Galiza socialista e independente encetou-se já em 1921, quando funda o Comité Revolucionário Arredista Galego, primeira organizaçom que reclama a independência da Galiza, publicando sob a legenda Independência ou morte o primeiro manifesto político pola soberania plena da história da Galiza. A sua foi umha trajectória vital dedicada ao serviço da classe trabalhadora galega e à propagaçom da causa da independência socialista por toda Latinoamérica.

O quê fazemos

- A nossa actividade principal centra-se na organizaçom de brigadas de apoio à Revoluçom, a primeira das quais visitou Cuba a finais do verao de 2008. O nosso objectivo de mínimos e enviar umha delegaçom anual às Caraíbas, tentando afiançar a BGFG como um referente juvenil estável para a colaboraçom com a Revoluçom.

- Maliá isso, começamos já a trabalhar o terceiro objectivo prioritário do que tem de ser a nossa actividade: A criaçom de solidariedade com Cuba no nosso país. Temo-nos proposto a colaboraçom estreita com o consulado cubano e associaçons referenciais para nós, como é a Francisco Vilhamil, para juntar forças e organizar actividade neste sentido.

- Temos complementado o anterior com a publicaçom na rede a través do nosso blogue de diferentes conteúdos atingintes à Cuba: Reflexons do Comandante Fidel, artigos do Gramma, convocatórias de actos de apoio a Cuba, vídeos de Cuba TV, crónicas da viagem da primeira delegaçom de brigadistas, etc.

- Num breve lapso de tempo iniciaremos de novo o processo de constituiçom da segunda brigada, qualquer jovem interessado pode contactar com nós a través do correio electrónico.

3. A viagem a Cuba em 2008

Existem duas Cubas. A que nos vendem nos médios de comunicaçom de massas, e a ilha situada nas Caraíbas. No primeiro caso, quando falamos de Cuba apresenta-se-nos um regimem no que se persegue à dissidência, um governo militarista que opreme ao povo que diz representar, um executivo corrupto que se aferra ao poder, um panorama de emigraçom forçada, fechaçom ao exterior e totalitarismo encuberto.

Em geral, esta visom aponta boa parte das características básicas que tenhem em comum a prática totalidade dos estados capitalistas no mundo, incluídos por suposto a UE e o estado espanhol. A realidade que nos encontramos ao chegar ao aeroporto José Martí da Havana foi mui diferente a este aterrador cenário destilado polas cadeias de televisom e rádio.

O que vém a seguir é se calhar o mais interessante do dito até agora. Constitui umha série de valorizaçons, impressons e reflexons que @s jovens brigadistas galeg@s fixemos ao longo dos 15 dias que durou a estadia na Ilha. Inserid@s na brigada 50º aniversário, a experiência foi especialmente boa ao encontrar-nos na mesma brigada com delegaçons de esquerdas como a colombiana, salvadorenha, sulafricana, coreana, iraniana, chilena, grega, portuguesa, e um longuíssimo etcétera; que nos permitiu nom só conhecer a realidade cubana de primeira mao, mas as de naçons e estados muito afastados de nós, desde a óptica das suas esquerdas autóctones.

É importante salientar que além do intenso programa elaborado polo ICAP, tivemos muitas horas livres para iniciar o conhecimento da ilha por conta própria. Muitas das entrevistas informais que tivemos com cuban@s de a pé permitirom que nos fixessemos um mapa mental muito mais exacto da realidade cubana. Vamos entom a comentar algumhas destas reflexons:

a) Auto-organizaçom. É o traço definitório da populaçom cubana: Um nível de tecido associativo e organizativo popular como nom tinhamos visto até o momento. Merecem especial atençom os CDR, verdadeiros encarregados e dinamizadores da vida social nos bairros e vilas, pulverizando o abismo que existe no mundo capitalista entre umha administraçom alheia que impom as decisons, e umha massa trabalhadora que se vê obrigada a aceitar as ordens (caso da BRILAT em Ponte Vedra).

Lá, a própria populaçom cubana organiza e coordena a actividade no cámpo laboral, estudantil, cultural e político. Este alto índice de associacionismo nom só eleva a consciência popular, involucra ao povo cubano e contribui à sua formaçom ideológica: Situaçons como as provocadas polos ciclons Gustav e Ike, permitirom umha quase nula mortalidade graças a umha populaçom que está acostumada à organizaçom, e a um estado ao serviço da classe trabalhadora formado na maior parte por essa mesma classe que deve proteger. Cousa que desgraçadamente, nom acontece aqui, nem nos EUA, onde o Katrina tem deixado miles de mortos em Nova Orleans e redondezas, quando segundo a teoria oficial os EUA som o “primeiro mundo” e Cuba o “terceiro”.

Esta auto-organizaçom está dialecticamente ligada com o sistema político cubano, que mui longe do monopartidismo imposto sobre o que ladram os médios, contribui a umha quota de democracia e participaçom que deveria ser a inveja do sistema de eleiçons espanhol, sem ir mais longe. Para nom extender-me mais sobre isto, deixo ao cônsul a sua possível explicaçom no debate.

b) Liberdade de expressom. Nada mais chegar a Havana o primeiro que vimos foi a um homem com umha camisola da bandeira ianque com a águia imperialista de Washington. Botamos umha olhadela a um lado e ao outro. Nem uniformes, nem homens de gabardina apontando dados. Dias depois, um jovem recém conhecido ante o Capitólio expressava em público o seu desacordo com determinadas posiçons de Fidel Castro, todo elo ante média dúzia de brigadistas de todas as partes do mundo. Voltamos a observar o terreno na pesquisa de forças repressivas. Nem rasto.

Efectivamente, se nos lembramos da bateria de multas e juizos existentes na Galiza por assistência a manifestaçons, as tentativas de ilegalizaçom de organizaçons juvenís galegas, ou o estado de excepçom de facto existente em Euskal Herria; semelha-nos cómico que estes estados, especializados no seqüestro da liberdade a expressar-se, assinalem a Cuba como o nom vai mais da repressom neste cámpo.

c) Valores éticos. Décadas de caminho face o socialismo tenhem conformado umhas atitudes maioritárias que lembram a esse “homem novo” do que falava o Ché (nós engadimos-lhe também, a “mulher nova”). Os laços comunitários derivados da auto-organizaçom popular, da consciência da agressom estado-unidense e do resto dos países capitalistas cúmplices; assim como um intenso labor de pedagogia social de massas; tenhem configurado um povo cubano maioritariamente solidário, que assume as dificuldades na sua vida quotidiana como umha necessidade do combate ao imperialismo (anedota caramelos).

O enorme labor da revoluçom cubana em matérias como os programas de apoio médico ou educativo tenhem contribuído a sucessos como a declaraçom de Venezuela como território livre de analfabetismo, além de enviar solidariedade activa a muitos outros países do mundo.

d) Prestaçons e igualdade sociais. Pouco há que engadir ao já dito sobre isto: Só que os próprios estados capitalistas reconhecem o liderazgo cubano em educaçom e medicina a nível mundial. Como anedota, temos conversado com vigiantes nocturnos de biblioteca que lhe dariam umha boa malheira dialéctica a Tourinho, Quintana e Feijoo, num hipotético “Presidentes, tenho umha pergunta para vocês”.

Todo o exposto até o de agora nom contradiz a existência de problemas, e grandes. Longe de querer idealizar a Revoluçom cubana, somos conscientes de diferentes problemáticas que afectam a ilha. Desde a prostituiçom e as drogas, mercado polo de agora minorista importado polos próprios turistas a partir do Período Especial; até o défice de vivendas agravado polos ciclons, junto ao criminoso bloqueio e o terrorismo de estado dos EUA, como comprobamos com os 10 anos de seqüestro dos cinco heróis.

O novo governo de Barack Obama manifestou a través da Secretária de Estado Hillary Clinton que estas práticas nom vam mudar, e que EUA continuarám a empregar “o poderio militar e económico” na sua política exterior.

A isto úne-se um processo de debate sobre o futuro, mudanças e perspectivas do socialismo cubano para o século XXI, sobre o que tentamos conhecer alguns aspectos com diferentes militantes do PCC.

4. Conclusons

a) Quê oferta a experiência cubana à juventude?

Um outro modelo possível, umha saída. Umha esperança de atingir um futuro com umhas condiçons materiais de existência dignas para @s jovens, que possibilitem o seu desenvolvimento em todas as facetas das suas vidas sem as trabas que impom o capitalismo, sem desigualdades sociais, sem poder adulto, sem restriçons sexuais, sem machismo, sem exploraçom laboral, etc.

b) Por quê defender Cuba?

Porque constitui umha demonstraçom empírica de que um mundo radicalmente diferente ao existente pode construír-se. O caminho face o socialismo emprendido em 1959 deve continuar avante e aprofundar em si próprio, até a conseguiçom do comunismo. O planeta e a espécie humana nom suportará outros 100 anos de capitalismo como até o de agora.

A história de Cuba nos tira a venda dos olhos, evidência que a revoluçom, a justiça e a liberdade nom som utopias, e que podem e devem alcançar-se. O conformismo e pesimismo só conduzem a aceitar a mentira manifesta de que a realidade nom pode ser transformada.

c) Por quê é tam importante o internacionalismo juvenil?

A assunçom de que todas as luitas, maliá as suas condiçons concretas, formam parte dumha única luita contra o sistema global de opressom (o capitalismo patriarcal), leva-nos à juventude, que estamos no apogeu das nossas capacidades e que formamos as futuras geraçons adultas; a ter umha responsabilidade fulcral no que acontecerá neste planeta nas próximas décadas.

O tendido de laços de fraternidade com outros povos oprimidos e em luita, permite além do estreitamento da solidariedade entre ambos, a apreendizagem mútua. Esta é imprescindível para o sucesso na luita.

É importante salientar que o internacionalismo que nós professamos está nas antípodas do defendido por organizaçons pactistas como o PCE ou IU, que disfarçam o seu espanholismo patológico esgrimindo consignas como a de “os obreiros nom tenhem pátria” ou “as luitas dos povos prejudicam à luita de classes”.

Haveria que ver a resposta que lhe daria José Martí a estes intelectuais de postim se lhe dixeram na Guerra da Independência que os cubanos nom tinham pátria, que a sua luita pola independência enfraquecia a emancipaçom d@s trabalhadores/as, ou que Cuba formava parte do estado espanhol.

Na brigada temos um exemplo claríssimo desta extendida tara mental, reflexada nos ataques contínuos que nos lançou a delegaçom espanhola ao empregarmos o nosso direito a ter delegaçom própria como povo diferenciado que somos. Estes ataques passárom das injúrias directas (provincianos de merda, tontos do cú, etc.) até o retiro do nomem do país do cartaz das delegaçons, ou as pressons ao ICAP por reconhecer “movimentos independentistas”. E aí estám, as esquerdas espanholas, ombro com ombro na mesma trincheira que PSOE e PP.

Por último, e já que falava de Martí, queria rematar a palestra com umha frase sua, que expom o cerne do que é Cuba, e da Galiza que estamos a construír: “Luitar é a vida, e nom há que fugir dela”.