sábado, 8 de novembro de 2008

Fidel reflexiona sobre a crise do capitalismo

REFLEXONS DO COMANDANTE FIDEL CASTRO

O analfabetismo económico


Chávez falou em Zúlia do "camarada Sarkozy", e dixo-o com certa ironia, mas sem ánimo de o ferir. Antes polo contrário, quijo reconhecer sua sinceridade quando, na sua condiçom de presidente rotativo da Comunidade de Países Europeus, falou em Beijing.


Ninguém proclamava o que todos os líderes europeus conhecem e nom confessam: o sistema financeiro actual nom presta e é preciso mudá-lo. O presidente venezuelano exclamou com franqueza:

"É impossível voltar a fundar o sistema capitalista, seria como uma tentativa de colocar a navegar o Titanic depois que está no fundo do Oceano."


Na reuniom da Associaçom de Naçons Europeias e Asiáticas, em que participárom 43 países, Sarkozy fijo confissons notáveis, segundo os telexes:

"O mundo vai mal, encara uma crise financeira sem precedentes pola sua magnitude, rapidez, violência, e as suas conseqüências sobre o meio ambiente ponhem em causa a sobrevivência da humanidade: 900 milhons de pessoas nom tenhem os meios para se alimentarem.

"Os que participamos desta reuniom representamos dous terços da populaçom do planeta e metade das suas riquezas; a crise financeira começou nos Estados Unidos, mas é mundial e a resposta deve ser mundial."

"O lugar para umha criança de 11 anos nom é a fábrica, mas a escola".

"Nengumha regiom do mundo tem liçom para dar a alguém." Umha clara alusom à política dos Estados Unidos.


No final recordou perante as naçons da Ásia o passado colonizador da Europa nesse continente.

Se Granma tivesse subscrito essas palavras, diriam que se tratava de um clichê da imprensa oficial comunista.


A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse em Beijing que nom se podia "prever a entidade e duraçom da crise financeira internacional em curso. Trata-se, nem mais nem menos, da criaçom de umha nova carta constitutiva das finanças." Nesse mesmo dia fôrom divulgadas notícias que revelam a incerteza geral desatada.


Na reuniom de Beijing, os 43 países da Europa e da Ásia acordárom que o FMI deveria ter um papel importante assistindo os países gravemente afectados pola crise, e apoiárom umha reuniom de cúpula inter-regional na busca da estabilidade a longo prazo e do desenvolvimento da economia do mundo.


O presidente do governo espanhol, Rodríguez Zapatero, declarou que "existia umha crise de responsabilidade em que uns poucos se enriquecêrom e a maioria se está a empobrecer", que "os mercados nom confiam nos mercados". Fijo um apelo para os países fugirem do protecionismo, convencido de que a concorrência faria com que os mercados financeiros jogassem o seu papel. Ainda nom foi oficialmente convidado à Cúpula em Washington pola actitude rancorosa de Bush, que nom lhe perdoa a retirada das tropas espanholas do Iraque.


O presidente da Comissom Europeia, José Manuel Durão Barroso, apoiou a sua advertência sobre o protecionismo.


O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pola sua vez, reunia-se com eminentes economistas para tratar de evitar que os países em desenvolvimento sejam as principais vítimas da crise.


Miguel D’Escoto, ex-ministro de Relaçons Exteriores da Revoluçom Sandinista e actual presidente da Assembleia Geral da ONU, demandava que o problema da crise financeira nom fosse discutido no G-20 entre os países mais ricos e um grupo de naçons emergentes, mas nas Naçons Unidas.


Existem desacordos acerca do lugar e da reuniom onde deve ser adoptado um novo sistema financeiro que ponha fim ao caos e a ausência total de segurança para os povos. Existe grande temor de que os países mais ricos do mundo, reunidos com um grupo reduzido de países emergentes golpeados pola crise financeira, aprovem um novo Bretton Woods ignorando o resto do mundo. O presidente Bush declarou ontem que "os países que discutirám aqui, no mês próximo, sobre a crise global também devem voltar a se comprometerem com os fundamentos do crescimento económico a longo prazo: mercados livres, livre empresa e livre comércio."


Os bancos emprestavam dezenas de dólares por cada dólar depositado pelos poupadores. Multiplicavam o dinheiro. Respiravam e transpiravam por todos os poros… Qualquer contraçom os conduzia à falência ou à absorçom por outros bancos. Era preciso salvá-los, sempre a custa dos contribuintes. Fabricavam enormes fortunas. Seus privilegiados accionistas maioritários podiam pagar qualquer quantidade por qualquer cousa.


Shi Jianxun, professor da Universidade de Tongui, Shanghai, declarou em um artigo que publicou na ediçom exterior do Diário do Povo, que "a crua realidade tem levado a pessoas, no meio do pánico, a repararem que os Estados Unidos tenhem utilizado a hegemonia do dólar para pilhar as riquezas do mundo. Urge mudar o sistema monetário internacional baseado na posiçom dominante do dólar."


Com poucas palavras explicou o papel essencial das moedas nas relaçons económicas internacionais. Assim vinha acontecendo há séculos entre a Ásia e a Europa: lembremos que o ópio foi imposto à China como moeda. Disso falei quando escrevi "A vitória chinesa".


Nem sequer prata metálica, com a qual pagavam inicialmente os espanhóis desde sua colônia nas Filipinas os produtos adquiridos na China, desejavam receber as autoridades desse país, porque se desvalorizava progressivamente devido à sua abundáncia no chamado Novo Mundo recém conquistado pola Europa. Até vergonha sentem hoje os governantes europeus polas cousas que impugérom a China durante séculos.


As actuais dificuldades nas relaçons de intercámbio entre esses dous continentes devem-se resolver, segundo o critério do economista chinês, com euros, libras, ienes e iuanes. Nom há dúvidas que a regulaçom razoável entre essas quatro moedas ajudaria o desenvolvimento de relaçons comerciais justas entre a Europa, a Gram-Bretanha, o Japom e a China.


Estariam incluídos nesse contexto o Japom e a Alemanha ―dous países produtores de sofisticados equipamentos de tecnologia avançada, tanto para a produçom quanto para os serviços―, e o maior motor em potência da economia do mundo, a China, com ao redor de 1 400 milhons de habitantes e mais de 1,5 milhons de milhons de dólares nas suas reservas de divisas convertíveis, que som na sua maioria dólares e bónus do Tesouro dos Estados Unidos. Segue-lhe o Japom, com quase as mesmas cifras de reservas em divisas.


Na actual conjuntura, incrementa-se o valor do dólar pola posiçom dominante dessa moeda imposta à economia mundial, justamente assinalada e rejeitada polo professor de Shanghai.


Grande número de países do Terceiro Mundo, exportadores de produtos e matérias-primas com pouco valor agregado, somos importadores de produtos de consumo chineses, que soem ter preços razoáveis, e equipamentos do Japom e da Alemanha, os quais som cada vez mais caros. Mesmo quando a China tem tentado que o iuane nom fique sobrevalorizado, como demandam sem cessar os ianques para protegerem as suas indústrias da concorrência chinesa, o valor do iuane se incrementa e o poder aquisitivo de nossas exportaçons diminui. O preço do níquel, o nosso principal produto de exportaçom, cujo valor atingiu mais de 50 mil dólares a tonelada nom há muito tempo, nos últimos dias apenas ultrapassava os 8 500 dólares por tonelada, isto é, menos de 20 % do preço máximo alcançado. O do cobre se reduziu a menos de 50%; assim sucessivamente acontece com o ferro, alumínio, estanho, zinco e todos os minérios indispensáveis para um desenvolvimento sustentável. Os produtos de consumo, como café, cacau, açúcar e outros, para além de todo sentido racional e humano, em mais de 40 anos apenas incrementárom os seus preços. Por isso, há bem pouco tempo eu advertia igualmente que, como conseqüência de umha crise que estava ao virar da esquina, os mercados se perderiam e o poder aquisitivo de nossos produtos se reduziria consideravelmente. Nessa circunstáncia, os países capitalistas desenvolvidos sabem que as suas fábricas e serviços se paralisam, e só a capacidade de consumo de grande parte da humanidade já nos índices de pobreza, ou por debaixo deles, poderia mantê-los funcionando.


Esse é o grande dilema que coloca a crise financeira e o perigo de que os egoísmos sociais e nacionais prevaleçam por em cima das vontades de muitos políticos e estadistas angustiados perante o fenómeno. Nom tenhem a menor confiança no próprio sistema do qual surgírom como homens públicos.


Quando um povo deixa atrás o analfabetismo, sabe ler e escrever, e possui um mínimo indispensável de conhecimentos para viver e produzir honradamente, faltaria-lhe vencer ainda a pior forma de ignoráncia na nossa época: o analfabetismo económico. Só assim poderíamos saber o que está a acontecer no mundo.




Fidel Castro Ruz


26 de Outubro de 2008


17h15