quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O objectivo irrenunciável

REFLEXONS DO COMANDANTE FIDEL CASTRO
O objectivo irrenunciável

Ao redor de 35 mil especialistas cubanos da saúde prestam serviços gratuitos ou compensados no mundo. Adicionalmente, um número de jovens médicos de países como Haiti e outros dos mais pobres do Terceiro Mundo trabalha na sua pátria por conta de Cuba. Na área latino-americana fundamentalmente contribuímos com intervençons oftalmológicas que preservarám a vista de milhons de pessoas. Por outro lado, contribuímos para a formaçom de dezenas de milhares de jovens estudantes de medicina de outras naçons, em Cuba ou no estrangeiro.

Contodo, nom é umha questom que leve à ruína ao nosso povo, o qual pode sobreviver graças ao internacionalismo que a URSS aplicou com Cuba, e ajuda-nos a pagar nossa própria dívida com a humhanidade.


Meditando cuidadosamente e analisando em detalhe a história das últimas décadas, chego à conclusom, sem chauvinismo algum, de que Cuba conta com o melhor serviço médico do mundo, e é importante que tomemos consciência disso, visto que é ponto de partida do que desejo expor.


A base do mencionado sucesso está na rede de policlínicas e consultórios médicos estabelecida em todo o país, que substituiu o desastroso e precário sistema de atendimento médico capitalista baseado na medicina privada, apesar de a dura realidade nos ter imposto um número de centros mutualistas de atendimento médico. Para os mais jovens, esclareço que eram instituiçons de carácter cooperativo onde, por um pagamento mensal, eram prestados esses serviços. A minha família e eu recebíamos alguns por essa via num hospital localizado na longínqua capital da antiga província de Oriente. Nom lembro, contodo, um só cortador de cana-de-açúcar ou operário da fábrica de açúcar que puidesse fazer parte dessa instituiçom por carecer de recursos e jamais iam para essa cidade. Onde quer que os princípios do capitalismo reinem, a sociedade retrocede, daí o cuidado extremo que devemos ter cada vez que o socialismo se veja obrigado a usar mecanismos capitalistas. Alguns se embriagam e alienam sonhando com os efeitos da droga do egoísmo individual como o único mecanismo capaz de mover as pessoas.


A grande necessidade de especialistas médicos gerou neste ramo o espírito burguês de elite, ao qual se pôs definitivamente fim em Cuba quando a Revoluçom ao longo de muitos anos graduou números crescentes de médicos que deviam renunciar ao exercício privado da profissom, e mais tarde, se convertiam em especialistas através do estudo e da prática sistemática, chegando a constituir umha massa de profissionais bem qualificados.


Na sociedade capitalista, um número reduzido de especialistas que tinha a ver com a saúde e a vida forom convertidos em deuses. Neles, como entre os educadores de alto nível e demais profissionais que precisam de grandes doses de conhecimentos, nom há outra alternativa que cultivar a fundo o espírito revolucionário. A experiência demonstrou que é possível, sobretodo numha actividade que tanto tem a ver com a vida ou com a morte.


A nossa rede de policlínicas abrange cidades e campos de toda Cuba; foi criada num processo de desenvolvimento de centros de saúde adaptados às situaçons mais variadas do nosso território e os seus habitantes.


Numha cidade como Havana, a maior do país, um exemplo da complexa vida urbana ― que por outra parte difere, por sua vez, de Santiago de Cuba, Holguín, Camagüey, Villa Clara ou Pinar del Río, do mesmo modo que estas diferem entre si ―, cada policlínica atende a cerca de 22 mil pessoas.


Após o triunfo do 1º de Janeiro de 1959, os cidadaos da capital saturavam as urgências dos hospitais, geralmente a muitos quarteirons da sua moradia, para receberem o atendimento que a Revoluçom lhes prestava gratuitamente com os equipamentos nesse momento disponíveis, e nom iam às policlínicas recém-criadas, aonde eram enviados com freqüência os médicos menos eficientes. Depois aprenderom a receber esses serviços na policlínica, cada vez melhor equipada e com médicos com crescente qualidade e profissionalismo. Optarom, finalmente, pola melhor variante, ir em primeiro lugar ao consultório médico, onde eram atendidos por um jovem médico que se preparava em cursos teóricos e práticos de seis anos, projectados com esmero por professores eminentes. Mais tarde, continuava estudando até se tornar um especialista de Medicina Geral Integral. A policlínica apoiava-o com seus laboratórios e equipamentos.


Numha ocasom, quando visitei um desses centros para comprovar seu profissionalismo, pedim sem aviso prévio que me fizessem um exame dos sinais vitais; foi um dos melhores e mais rápidos que eu vi na minha vida.


Nem um só instante, a Revoluçom abandonou o esforço de reparar, adaptar ou construir novas policlínicas e consultórios médicos, enquanto milhares de estudantes entravam e se graduavam em mais de 20 faculdades de ciências médicas. É umha longa e fascinante experiência.


Na sua actual concepçom, umha policlínica sempre deve estar pronta para prestar dez serviços básicos: meios de diagnóstico, pronto-socorro, odontologia, reabilitaçom integral, saúde materno-infantil, enfermagem, clínico-cirúrgico, atendimento ao idoso, saúde mental, higiene e epidemiologia. Foi concebido o sistema para prestar serviços em 32 especialidades, entre elas, as que devem ser atendidas a qualquer hora do dia ou da noite, desde umha dor de dente insuportável até um infarto. Deve ter pronto-socorros, que aproximam esse serviço das moradias das famílias.


Quando escrevim Os vícios e as virtudes, salientei que toda tentativa de apropriar-se dos produtos que passam por sua mao, como fam alguns, era indigno da conduta de um trabalhador, seja qual for a sua categoria social, a sua capacidade, os seus estudos, os seus conhecimentos; quer colha batatas, ordenhe vacas, cozinhe num restaurante, trabalhe numha fábrica, numha escola, numha livraria, num museu, manual ou intelectualmente, num lugar qualquer. Ninguém deseja instaurar o trabalho escravo ou semi-escravo no nosso mundo. Todos pensamos que o cidadao nasce para umha vida mais digna.


Aquele que rouba esquece que toda pessoa deseja tranqüilidade e respeito para ele e os seus familiares, alimentos variados e de qualidade, moradias decorosas, eletricidade sem cortes, água corrente, ruas sem buracos, transporte cómodo e seguro, hospitais bons, policlínicas bem equipadas, escolas de primeira classe, armazéns e lojas que funcionem bem, cinema, rádio, televisom, internet e muitas outras coisas agradáveis, que só podem emanar do trabalho metódico, eficiente, bem organizado e de trabalhadores altamente produtivos.


A produçom de bens de consumo e a prestaçom de serviços precisam de equipamentos modernos para a construçom, a agricultura, o transporte, a energia eléctrica de alta tensom, produtos químicos ou inflamáveis; condiçons de trabalho que trazem consigo riscos de altura, profundidade e outras muitas variantes ineludíveis; qualquer descuido provoca mutilaçons e mortes que obrigam a tomar constantes providências para impedi-las ou reduzi-las ao mínimo possível, sem poder impedir infelizmente a cada ano um número doloroso de casos. A isto se acrescentam as doenças profissionais, os sofrimentos e danos que ocasionam. Os bens e serviços que todos anseiam nom nascem do nada. Fortes investimentos, tecnologias modernas, matérias-primas custosas, energia abundante, e muito especialmente o trabalho humhano, som indispensáveis, se nom desejamos ficar na pré-história.


Recentemente, solicitei ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social dados sobre o número de trabalhadores envolvidos nos programas da educaçom e da saúde do país; beiravam quase 20% da força de trabalho activa do país na produçom económica e nos serviços.


Os dados que recebim, analisados cuidadosamente, justificam os passos dados para aumentar a idade da aposentadoria, que no projecto se associa a melhoras reais na renda familiar e, segundo a minha opiniom, também à necessidade imperiosa de evitar o excesso de dinheiro circulante e ao dever de recuperarmo-nos rapidamente do golpe dos furacáns, sem deixar ninguém desamparado.


A questom que coloco é se o ser humhano pode ou nom organizar com racionalidade a sociedade na qual tem obrigaçom de viver.


Os esforços que fam os músicos com os seus instrumentos talvez sejam tam fortes quanto os que realiza o fundidor da fábrica "Antillana de Acero". Às vezes, nom existem diferenças entre o gasto mental e energético de um e do outro, embora poidam existir no modo de pensar, porque alguns som conhecidos e aplaudidos constantemente e outros nom. Contodo, aqueles, com a sua influência, podem contribuir para a luita contra velhos vícios de sociedades passadas, como muitos fam, nom só músicos, mas também escritores e pintores prestigiosos formados pola Revoluçom.


Há profissionais especializados nas ciências económicas, organizaçom do trabalho, psicologia e outros ramos, conscientes destas realidades, que abordam de umha forma ou outra temas associados a elas; som lidos ou escutados interessantes conceitos em busca de respostas que, sem dúvida, terminarám apontando para a mesma direcçom, à medida que o debate nacional e internacional se abrir.


Os Prémios Nobel de Economia ficam assombrados com umha crise do capitalismo desenvolvido jamais vista, que exije neste momento de 700 bilhons de dólares adicionais, que deverám pagar os filhos das famílias norte-americanas. Os peritos do imperialismo nom conseguem acertar, enquanto os chefes de Estado, primeiros ministros e altos funcionários participantes da Assembléia Geral das Naçons Unidas, espremem-se os miolos tentando procurar soluçons. Chama a atençom ver como muitos dos aliados dos Estados Unidos na OTAN nom falam o seu idioma nacional, mas o inglês, esperanto da nossa época, visivelmente mal-falado.


Penso que nom há alternativa à necessidade de rever todo, buscar mais produtividade e menos esbanjamento de recursos humanos nos sectores vitais, inclusive na Saúde e na Educaçom ― e nos outros da economia produtiva e dos serviços ―, sem nos cingir estritamente a cifras elaboradas anos atrás, sem diminuir e sim aumentando a qualidade de todo o que é levado a cabo na nossa pátria, e sem deixar de cumprir deveres internacionalistas, cujos frutos começam a ser percebidos. Som ainda mais do que podemos imaginar e bastante menos do que se precisa. O resto deve ser dado por nós próprios, sem hesitar.


Fidel Castro Ruz

24 de Setembro de 2008

20h37